domingo, 22 de setembro de 2013

A MANHÃ SEGUINTE

     Na manhã seguinte, quando acordei, tu não estava mais no quarto. Antes de chegar até tentei analisar o que aconteceu na noite passada. Carina percebeu que a sua  melhor amiga era lésbica. Eu  me lembro que usei essa palavra em minha mente enquanto  me perguntava  que decisão vou tomar. Eu me senti suja por dentro e por fora. Eu fui para a casa de banho, e tranquei a porta da casa de banho. Então decidi que era melhor voltar para Faro no mesmo dia. 
   
   Eu queria evitar tensões entre nós as duas, o resto do tempo em que estivesse-mos juntas. Cheguei à conclusão de que manter a nossa amizade não seria igual depois disto. E eu não estaria errada com tudo isto. Eu encontrei-a na cozinha, fumar. Ao ver-me Irina abaixou-se, e quando e apagou o cigarro vi que o cinzeiro estava a transbordar. Sem olhar para o rosto dela eu a informei da minha decisão. Voltei para o quarto fazer as malas. 
  
    Minutos depois, Irina apareceu na porta para me dizer, com a voz trémula, que estava arrependida. Então Irina me pediu para  que eu a ouvisse, se ainda éramos amigas. Nós sentamos-nos na cama de frente  uma para a  outra, Irina voltou a lamentar-se do que  tinha acontecido dizendo eu sou uma idiota e que tinha arruinado tudo. Irina explicou que: quando embarcou vinha com muitas dúvidas sobre suas preferências sexuais, que os meninos se misturavam com as meninas nos seus sonhos.
  
   Irina  percebeu que as suas preferências,  era pelas meninas. Irina me disse que na entrevista com Dona Isilda realmente a machucou e eu, com os meus conselhos, ensinei-a a esconder, e não mostrar seus sentimentos.  O Filme daquela tarde me afastou e queria provar  o que ela  me queria dizer, mas não sabia como. Eu confesso que eu fui atraída pelo meu jeito de ser, de ter os mesmos gostos e também o mesmo corpo. 
    
   Ela me seguiu em torno  e de modo que eu era a sua melhor amiga. Com tremor engasguei e disse as piadas mais comuns fogo, usei essa palavra como um insulto ao exibir a minha feminidade. Então, Irina decidiu não ser diferente e evitar comentários. Eu disse que ninguém sabia, nem mesmo seus pais, só comigo. Por tudo o que era: não deixava de ser uma pessoa normal, mesmo que já tivesse tido sucesso com as meninas. Em seguida, Irina acrescentou,  sou a mais miserável, só havia uma coisa, que ela não sabia quanto tempo ela poderia esconder sua verdade. 
   
   Irina voltou a pedir-me perdão por ter abusar de minha confiança, e para eu entender se  ainda éramos amigas. Eu tinha diante de mim uma jovem derrotada, em lágrimas,  e que tinha revelado o seu lado, o seu segredo. Eu percebi que Irina precisava de meu apoio e do meu perdão. Então eu derretida em abraços com ela,  tentei acalmá-la. Eu disse a ela que era indesejável que os amigos e amigas da escola não soubessem,  mesmo a escola a poderia expulsar ou tornar-lhe a vida miserável. 
    
   Que mais tarde, quando já estivesse trabalhar, ai estaria livre para dizer qual  era o rumo que queria seguir. Irina concordou comigo. Depois de ouvir a Irina naquela manhã, eu continuei a acreditar no desejo de voltar para Faro. Irina entendeu. Entre nós as duas, fizemos uma desculpa plausível para explicar as outras a minha partida inesperada. No caminho para a estação ai falar sobre os projectos  do último ano no colégio interno. 
    
   Iria empregar todos os meus esforços, e faria menos desporto  assim ficaria com mais tempo  a criar novas músicas e para aperfeiçoar um novo estilo. Irina ficou incentivada com esta proposta. Deixei-a mas disse nós vamos voltar a ver-nos, e antes de  embarcar dei-lhe um abraço forte. Da janela do trem,  e já de frente para o meu lugar eu podia ver  os seus olhos lacrimejando quando ela levantou o braço em despedida.
   
   Poucos dias depois do meu regresso a Faro recebi a terrível notícia de que Irina  se havia afogado no rio. A Policia disse que, o redemoinho do rio poderia te-la arrastado para debaixo e deixá-la presa no mato. Eu estava quebrada há dias sobre a perda da minha melhor amiga, mesmo perdida tinha o desejo de voltar para a escola. Irina partiu deste mundo sem eu poder expressar todos os sentimentos e momentos felizes que passemos juntas. 
   
   Sem saber quase nada, sobre o  seu mundo oculto, e que se atreveu  enfrenta-lo. meus pais me convenceram a terminar meus estudos, mas também o apoio de Susana e o fato de que ela estava lá, em Faro, à minha espera. Quando cheguei  todos sabiam o que tinha acontecido. Foram repetidas cenas de choro e impotência entre os pares. Dona Isilda foi quem comunicou a morte de Irina. 
    
    Ela abusou do seu poder  e da inocência de Irina, a mesma que protestara contra a sinceridade de suas respostas, até ela a culpou por sua natureza. Eu  apenas acho que é a influencia da hipocrisia das pessoas e das suas consciências. Lisboa, 4 de Agosto de 1985. Minha cara e amiga Carina: Eu espero que tu saibas,  e me perdoe pelo que aconteceu no meu aniversário. Dou-te o meu álbum de fotos a onde estamos juntas. 
   
    Agora tu sabe que é mais que um sentimento o que eu sinto por ti, mas nós somos diferentes e, eu respeito a tua maneira de ser. Eu espero que tu saibas  manter o meu segredo. Às vezes penso que dentro de mim há uma alma solitária, condenada à incompreensão e  ao desprezo. Tenho um bilhete  para o comboio que eu queria apanhar. Mas eu preferi cancelar a viagem. Agradeço ter-te encontrado nestes dois anos. Eu irei seguir sempre ao teu lado.   
  
   Eu queria terminar o meu dia. Mas novamente lembrei-me do suicídio de Irina, já me entristeceu tanto. Após esse evento eu sempre tive a convicção de que a minha amiga também  matou um pouco de nós as duas juntas. Pelo menos a sociedade rígida e intolerante coexistindo nas nossas adolescentes. As colegas a perguntar o que está errado, não tenho boa aparência, eu lhes digo que minhas costas doem. É engraçado, algumas delas eu conheci no colégio. 
     
    Na hora do lanche, ouvi-as criticar um apresentador de televisão que era gay. Várias  vezes senti que eu era nojenta pela liberdade que fui mostrando em público, que as lésbicas deviam ser todas enforcadas. Com estas palavras que eu disse. Vocês têm imitado, e exagerando os seus gestos  algumas   riram-se  bem alto. Eu olho em volta, vejo os rostos, o riso zombeteiro das minhas colegas e eu me recuso a deixar que alguém  suje o nome de Irina. Já passaram 28 anos e olho para aquela carta, e sinto que o seu segredo deve continuar guardado e bem guardado.



Essência de mulher

Eu te acariciava gentilmente…
Para obter a tua seiva de insana magia;
Queria abrir a minha boca com teus lábios:
Enquanto o meu corpo se molhava de paixão.
Dois copos de licor inundado o meu ser…
Néctar da festa de amor nos meus anos;
Apenas queria as tuas deliciosas iguarias:
Eram os meus desejos de virgem insana.
Queria ser abraçada sobre as cobertas…
Esperando a doce magia da manhã;
Desfrutando de momentos bonitos:
Queria enlaçar o meu corpo no teu,
Mas tu também eras mulher:
Quando a noite acabou, e o dia chegou…
Foste encontrar-me na cozinha;
Tivemos uma longa conversa:
Pedi-te desculpa mas decidiste ir embora.
Fui contigo a estação dizer-te adeus…
Ali amargamente por ti chorei;
Mas compreendi que eras mulher:
E com desejos diferentes dos meus.
Como  mulher não te podia amar...
Por isso não quero sofrer de paixão;
Para não sofrer decidi suicidar-me:
Assim terminam as dores do  meu coração.

Autor: Santa Cruz